terça-feira, 8 de março de 2011

A história dos malandros

Ele era pirata. Mas isso não era nada muito espetacular, naquela época, todo homem era pirata. Como qualquer pirata ele não era confiável. Porque, como os piratas diziam, ''pirata que é confiável, não é pirata que se preze''. Ia aos bailes da cidade para dançar com as moças bonitas e atraentes e roubar-lhes as suas pérolas de brincos e cordões; depois elas passavam pelo mercado dos roubados e contrabandeados e viam suas jóias em exposição, e pensavam que '' por descuido perdera'', pois a astúcia do pirata não permitia que ninguém visse seus furtos, perfeitamente disfarçados. O pirata ficava cada vez mais rico, vendendo as jóias roubadas das belas moças. Todo o dinheiro que ele ganhava, guardava para comprar peças do seu barco. Não que ele tivesse um barco. Não AINDA! Todo pirata tem que ter um barco, e ele nunca sequer tinha saído para o mar. Com o dinheiro que ele juntava, comprava peças de madeira para formar o mais amedrontador e majestoso barco de pirata que se já tem notícia. Já tinha quase toda a proa formada.
Um dia desses ele encontrou a pedra mais bonita que já vira na vida, amarela, reluzente, envolta numa caixinha de prata, pendurada numa corrente de bronze. Estava bem-guardada no pescoço de uma bela e jovem dama, entre seu decote e debaixo do seu queixo erguido e decidido. Ele decidiu que precisava tê-la. Aquela pedra valia quantia o suficiente para acabar seu barco e ainda comprar sua vela de pano denso para fazê-lo flutuar sobre as ondas dos sete mares.
Ele então tentou : tirou-a para dançar, cortejou-a, até beijou-a um beijo frio de olhos abertos e focados na pedra. Então com um gesto ágil que para a moça tratava-se de um simples e bondoso carinho na nuca, ele roubou-lhe o cordão. Ela nem sequer notou, distraída pelo falso cavalheirismo do pirata ator.
Aquela noite ele dormiu tranquilo e satisfeito, sabia que a pedra valeria uma nota no mercado dos roubados, e dito e feito. Pela manhã ele já estava com todo o dinheiro na mão. Como pensara, o suficiente para acabar seu barco. E assim foi feito. Todo o material foi comprado e o barco terminado em apenas duas semanas. Ele então saiu pela rua a desfilar seu modelo. Com uma vela de tecido refinado e pintura modernista de uma caveira (típica dos piratas), madeira de grande porte, macia e cheirando a floresta ainda. Parou no primeiro bar que ele viu para gabar-se de seu barco digno de piratas.
- Ei, Gil! Eu acabei de construir o meu barco! - e mostrou orgulhoso o seu resultado de meses de esforço.
- Hum... Está bonito Patrício, mas é do tamanho do meu antebraço, é apenas um modelo.
O pirata Patrício olhou para seu trabalho e se deu conta de que era verdade. Na verdade que ''não'' era verdade. Seu barco de pirata que desbravaria os sete mares, era apenas um mísero brinquedo.
Ele então decidiu desistir de ser pirata, um pirata só era um pirata quando tinha um barco e navegava por todo o mundo, enquanto ele, jamais tinha estado no mar.
Mas a vida de roubos e vendas continuou. A fama de conquistador aumentou. O mulherengo vigarista ainda tinha características de um pirata, mas um pirata terrestre.
Mais tarde foi dado um nome específico à esse tipo: malandros

Um comentário:

  1. HUahuahauha...esse foi bom...[c ferro o patrício] MUITO bom mana... continue assim xD

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