sábado, 16 de abril de 2011

Repressão

Domingo três da tarde, Rua Magalhães- 305        13/09/1890.
Lá estava ela na janela, afinal, eram três da tarde e todos os dias às três da tarde ela tinha um encontro secreto com ele. Ela se aprumou toda, colocou o melhor vestido do armário. Pegou um pouco do perfume da mãe e espirrou no pescoço e nos pulsos. Passou uma mão de esmalte nos dez dedos com perfeição. Abriu a gaveta e pegou o papel que tinha feito com tanto carinho na noite anterior.
Conferiu o papel e decidiu que estava bom. Abriu vagarosamente a janela, antes, claro, olhando para a porta fechada de seu quarto, para ter certeza que sua mãe não veria sua fuga. Ela olhou pelo vidro fosco da janela, e viu a sombra indistinta dele lá em baixo, próximo ao salgueiro. Sua respiração parou , como sempre acontece quando ela faz algo que não devia estar fazendo.
Ela sabia que seu pai jamais autorizaria seus encontros com ele. Pois ele a faria ter novas opiniões, opiniões essas que convergiriam com as ideias de seu pai. Coisa que ele nunca aceitaria.
Ela respirou fundo, e saiu. Primeiro uma perna, depois a outra. Agarrou-se na árvore e foi escorregando até sentir a grama sob seus pés. Quando ela alcançou o solo, cruzou o olhar com o dele.  Ela sorriu, genuinamente feliz por encontra-lo finalmente. E disse:
                - Olá professor , eu fiz o trabalho de casa- disse ela entregando-o o papel que o pegou na gaveta.