terça-feira, 28 de junho de 2011

Papel ouvinte

                Decidi que eu falo demais, e isso, não é de tudo, bom. Não falo na verdade para as outras pessoas ouvirem, falo mais para eu ouvir minha voz no ar, deslizando sobre as partículas, como se, quando proferidas elas se tornem finalmente reais.
                Quando falo, tenho a impressão de que é a consumação de que tal coisa de verdade aconteceu. Que realmente eu realmente vivi tais aventuras, que eu realmente senti tais sentimentos, e eu realmente estava lá, e adivinhe só! ISSO ACONTECEU.
                Se a vida fosse um baú, ninguém precisaria contar nada. Todas as experiências seriam guardadas para aqueles que as protagonizaram, e eu imagino, o quão sem cor seria o mundo, seria amarelado, com aspecto de mofado e guardado, assim como as memórias. Mas não! Quando vivemos descobrimos que a vida é colorida, e merece ser contada. Narrada. Narrada para tornar tudo real.
                Mas, mesmo tendo todas essas certezas eu não posso sair por ai, contando todas as minhas experiências para quem estiver de ouvido atento ouvir. Infelizmente, algumas pessoas não podem, querem ou merecem serem ouvintes de nossas vidas. Mas, um pedaço de papel sempre está disposto a ser seu interlocutor.
                Então, eu tenho propriedade para falar, que quando no papel, as palavras são gritadas e vividas e o enredo que estamos desenvolvendo se torna finalmente real, sem dúvidas real, simplesmente real.