sábado, 25 de dezembro de 2010

Peixes que trocam de sexo

Ter peixes, faz parte da infância de todo mundo. É o que dizem: cuidar de um peixinho nos trás o mínimo de responsabilidade, tudo o que uma criança precisa! - segundo os adultos. Para as crianças tudo o que precisamos é de um pátio para correr e um tio para perturbar.
Eu cheguei na idade de ter meus peixes bem cedo. Primeiramente ganhei um, mas eu esquecia de alimentá-lo e ele morreu. Eu não entendi muito bem isso, sempre tinha ouvido falar que dar amor à um ser vivo era muito mais importante do que dar bens físicos ou materiais, bem, com meu peixe dourado isso não funcionou.
Na minha segunda vez de ter peixes, eu tive logo dois. Era lindos peixinhos beta.
Eu não sabia se peixes tinham sexo, ou, se tinham, qual era o meio para identificá-lo, mas eu decidi que teria um macho e uma fêmea: Frida e Lino
Mas como os peixes eram idênticos, e eu não tinha como distingui-los, ia pelo meu humor. Às vezes acordava dizendo que o que nadava mais para a esquerda era o menino, às vezes dizia que o mais faminto era a menina. Mas na mesma hora eles se mexiam e eu perdia o que eu estava marcando, Frida virava Lino e Lino virava Frida.

Enfim, meus peixinhos passavam todos os dias uma cirurgia psicológica de troca de sexo. Talvez isso os tenha fatigado e feito eles morrerem tão depressa.

Chega de responsabilidades para uma criança!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Sapataria

É legal quando você entra na loja bem em um horário de almoço, ou melhor, de depois do almoço. Parece que está todo mundo com preguiça e esfregando a barriga recentemente alimentada. Quando se trata de loja de sapato os bancos reservados para o cliente experimentar o calçado estão sendo usados por funcionários preguiçosos!
Enfim, vamos aos fatos...
Hoje fui numa loja dessas, ai decidi comprar um dos tênis que tinha experimentado - sim, achei um banco na loja onde não houvesse vendedor esperando a comida assentar. - quando cheguei na caixa tinha uma briga sendo formada. Não que eu goste de ver pessoas brigando, mas o motivo da briga é sempre algo tão banal e que poderia ser resolvido facilmente de outro modo, que me desperta o interesse. Outro aspecto legal de se observar brigas é que se ocorrer algo fora do controle e a polícia precisar de testemunhas, podemos servir aos protetores da lei. Não sou fofoqueira, apenas me interesso pelos assuntos que pairam ao meu redor.
- Tá vendo minha mãe seu gerente? Ela já é de idade! Não pode ficar na fila enquanto as suas funcionárias dondocas ficam ali conversando. - dizia uma mulher bem vestida ao lado de uma velhinha com uma cara de super ativa que estava, inclusive, vestindo roupas de ginástica.
Pela cara do gerente, ele pretendia responder educadamente, mas a sua caixa foi mais rápida:
- Dondoca é você minha filha. Vai tirar uma de madame pra cima de mim não! O gerente sabe muito bem que eu to na hora de almoço e não vou sair daqui até o meu tempo acabar. - ela conferiu o relógio.- O que, ainda falta 7 minutos pra acontecer!
O gerente então teve que se virar pra pagar embrulhar e empacotar todos os produtos das pessoas que estavam na fila, sozinho. Enquanto suas duas funcionárias que trabalhavam no setor do caixa estavam atrás do balcão conversando.
Minha atenção então se voltou pra conversa delas:
- E então, você mandou o bilhete pra ele?
- Ah mandei, mas tirei aquele finalzinho!
- UÉ! Mas o final era o mais importante, era o desfecho da história Judith!
- Eu sei, mas achei muito agressivo. Olha só eu coloquei o principal: - Judith tirou um papel do avental de trabalho que estava bastante riscado e amassado e leu em voz alta- '' Você não vai mais me fazer de boba. Não podemos mais continuar assim. Ou conversamos civilizadamente ou o fim será evidente. ''- ela fez uma pausa e se voltou pra amiga- Você escreve bonito em Cleide? E-VI-DEN-TE, palavra bonita essa não é?
- É, é. Mas continua Judith!
- Acabou! Só mandei isso, botei bem na bolsa de trabalho dele. Ele deve ver quando for mexer na papelada do barco.
- Judith, você me pediu pra fazer uma carta e mandou só um bilhete?!
- Ah desculpa Cleide, mas achei que assim ficou melhor! Você quebrou um galhão sabia amiga? Eu nunca ia conseguir escrever assim! Valeu mesmo.
- Judith afinal, porque você mesma não escreveu ?
- Ah Cleide, sei que não ficaria bom como ficou o seu... Se encaixou direitinho.

Olhei para aquilo e fiquei imersa em pensamentos: que coisa curiosa. Uma pessoa achar que não sabe se expressar a ponto de pedir para um terceiro escrever algo tão pessoal sobre sua vida. O medo de fazer errado as vezes nos priva de fazer o que queremos, ou que julgamos certo.

Um erro terrível que os homens cometem, é ter medo de acertar.

Até porque, o acerto é relativo, assim como o correto. Se faz algo com que se identifica e algo que vem de dentro de você, não pode estar errado. Antes de prever uma derrota, temos que tentar jogar e correr um grave e maravilhoso risco de acertar.

Bom fim de semana!

p.s: Nick, parabéns! Tudo de bom pra vc (:

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O Canteiro de Petúnias

O seu nome era Pérola, uma senhora de 74 anos que ficara viúva à nove. Os médicos falaram de infarto fulminante. Mas a fortaleza que ela demonstrava ser por fora, era apenas uma máscara para a verdadeira mulher sensível e vulnerável que existia dentro dela. Problemas de coração eram constantes mas todos tratados às escondidas dos netos ''para não preocupar os coitados''. Na verdade, um neto em especial. Ela nunca negou que elegera Riverto como predileto. Otacílio e Miranda eram apenas homens, que só ligavam para as finanças da empresa e não se importavam com a saúde da avó.
Quando ela morreu, antes mesmo do velório, Otacílio e Miranda, já foram logo falar com o advogado da velha para saber de testamento, receosos de a vó ter deixado toda a riqueza para o seu protegido. ''Abutres'' pensou Riverto '' só querem saber de dinheiro e de bens. Pobre alma da minha avó''. 
O advogado lhes disse que no testamento constava que as terras ficariam para Otacílio, o cofre para Miranda.
Para Riverto, ela deixava uma pequena quantia em dinheiro e seu canteiro de petúnias.
Otacilio achou aquilo o cúmulo do esquisito. Não era provável que Sra. Pérola tivesse deixado menos fortuna para seu neto favorito do que para ele, que sempre fora, claramente, um nada para a avó.
Ele então resolveu investigar: aquelas petúnias não deviam ser normais. Ele tirou todas as flores do canteiro sem Riverto saber e mandou para um renomado laboratório clínico analisar. Tinha certeza de que acharia algo raro ou melhor, caro, para justificar a distribuição não igualitária de bens. Mas o resultado não detectou nenhuma substância química, nem nada de desigual nessas Petúnias em especial.
Miranda, certo de que tinha algo escondido no canteiro das petúnias, esperou cair a madrugada  revirou a terra em busca de algo como um pote de ouro. Mas não encontrou nada.

Os meninos não encontraram nada porque não tinha nada de especial material naquele canteiro, a não ser, é claro, amor. Para Sra. Pérola, aquele era seu maior bem, o que ela cuidava com maior carinho, o que ela dava maior amor, e ela queria que ele fosse preservado. Certa de que Riverto cumpriria muito bem esse papel, ela deixou-o sob seus cuidados.

Mas era tarde. O canteiro já estava remexido e sem nenhuma petúnia sequer.


Cuide bem de seu canteiro de petúnias!
Grande Beijo!

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Conceito

Ele estudava na terceira série, só tinha nove anos. Mas ele não tinha outra escolha senão crescer em mente mais rápido do que poderia crescer fisicamente. Filho de pai militar e mãe cozinheira do exército, ele era aquela criança que era encontrada pelos cantos da casa sem nada nas mãos apenas olhando para um ponto fixo na parede, teto ou chão. Isso nunca preocupou o pai, a final, '' mostra que o moleque é concentrado e vai dar um bom capitão da tropa'' . Mas para  mãe, que, secretamente tinha um coração, havia algo de errado com ele.
- Luigi...?
- Sim, pai? - disse ele, deixando de fitar a traça no corrimão da escada para dar atenção ao pai.
- Para você meu filho, o que é conceito?
- É nota pai...
- E o que é nota?
- É o resultado de alguma avaliação.
- E o que é resultado?
- É o que restou a partir de um trabalho feito.
- E o que é um trabalho?
- Algo pelo que você se esforçou para obter alguma recompensa.
- E o que é recompensa?
- É conceito, pai.

O mundo é redondo, mas vasto, evite caminhos que vão te levar sempre ao mesmo lugar.

Grande beijo!