quinta-feira, 28 de outubro de 2010

um ex-fumante.

Ele tinha acabado de ser contratado. Para quem estava a dois anos desempregado, passar o dia limpando a janela daqueles edifícios bonitões da Paulista parecia o melhor dos empregos possíveis. 
Enquanto limpava o último dos andares da prefeitura, parou e viu a imensa cidade de São Paulo... '' é ainda maior vista de cima'' pensou. Resolveu sentar no parapeito e observar a paisagem, afinal, estava com o serviço bem adiantado mesmo. 
Sentou, tirou um maço de cigarro do bolso e acendeu, começou a cantar uma música de Leci Brandão. Enquanto cantava gesticulava e viajava em sua fantasia.

Lá em baixo, uma comerciante que passava pela rua viu um homem balançando as perninhas para fora da janela do último andar. Nem pensou duas vezes: '' Acode! Acode! O homem ali vai se suicidar!''. É impressionante como a tragédia é atraente né. Em pouco tempo já tinham dezenas de pessoas em volta com pena do suposto maluco que ia se jogar do prédio. 

No meio da confusão, o barulho da patrulha da polícia chegou abrindo espaço. Um homem bigodudo saiu do carro com um mega-fone na mão já dizendo que era autoridade e que todo mundo tinha que e afastar para a polícia poder realizar a operação com sucesso. 
Enquanto as tais autoridades montavam cerco na área apareceu uma senhora desesperada dizendo que o rapaz que estava em cima do prédio era seu sobrinho e que ela reconheceria suas pernas de qualquer ângulo - apesar de só a barra da calça do sujeito estar exposta. 

Em quanto isso, lá em cima, o homem que fumava e cantava no expediente foi surpreendido por uma gravata por trás dada pelos homens do bombeiro, que com muita eficiência tinham chegado ao último andar do prédio e contido o ''suicida'' com sucesso. 
'' calminha aí moço, eu só tava descansando um pouco. Já ia voltar ao trabalho!''

Lá em baixo a mulher que se dizia tia do menino já estava quase tento um surto. Andava de um lado para o outro e puxava os cabelos. Quando viu os bombeiros saírem do prédio com o '' seu sobrinho'' foi correndo falar com ele. Apertou suas bochechas e disse para não dar mais esse tipo de susto e esquecer essa ideia de se suicidar. Ela deu um tapa da cara do pobre homem e saiu falando que aquilo era injusto com a alma do seu avô. Logo atrás de sua falsa tia vinha o executivo que ele conheceu como o cara que lhe tinha dado emprego: '' O senhor está despedido por difamar a empresa.''. O empresário disse ainda que se quisesse se suicidar ele podia. Contando que antes tirasse o uniforme de trabalho.

Nessa tarde, em que um simples trabalhador passou por suicida, ganhou uma tia e perdeu o emprego, ele decidiu: pararia de fumar...




Bom fim de semana ! (:

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